O Hub Cuidados em Crack e Outras Drogas do Governo de São Paulo, na região central da capital, completou três meses de funcionamento nesta quinta-feira (6) com 4.941 atendimentos realizados. Deste total, 2.857 pacientes que passaram pelas triagens foram encaminhados para algum tipo de tratamento.
O Hub também fez 1.172 encaminhamentos de pacientes para tratamentos em hospitais especializados. E houve ainda 907 encaminhamentos para Comunidades Terapêuticas.
Além disso, o balanço dos atendimentos no período revela que a maior parte dos pacientes não enfrenta somente a dependência química, mas também vive em meio a um quadro de vulnerabilidade social. Os dados mostram que oito em cada 10 pacientes que passaram pelo HUB já tinham tentado pelo menos uma vez um tratamento para transtornos aditivos.
De acordo com esse mapeamento do perfil dos pacientes acolhidos, 36,7% não tinham nenhuma renda e mais da metade dos pacientes atendidos não completou o ensino fundamental. Outro dado que chama atenção é que três em cada 10 pacientes não tinham nem documento com foto e 59% tem pelo menos 1 filho menor de idade.
O levantamento ainda mostra que entre os pacientes, 73,9% estão em situação de rua, sendo que 57% são da região central da capital e 43,8% frequenta a região das cenas abertas de uso. Quanto à dependência química, 74,1% consomem crack, 66,2% Consome cocaína, 50% são alcoolistas e 15,4% usam canabinóides sintéticos (K9, K2, K12 ou Spice).
Sobre o gênero, 87,9% são homens. Mulheres atendidas no HUB respondem por 9,9%, e transexuais, por 2,2%. Por fim, o perfil etário mostra que 85% têm de 26 a 59 anos. Outros 11,4% têm entre 18 a 25 anos, e 2,8% possuem mais de 60 anos. Há ainda 0,7% entre 12 e 17 anos.
Na unidade, há cerca de 200 profissionais com experiência no tratamento de dependência química que trabalham com abordagens, acolhimento e atendimento a usuários de drogas. Após a triagem, o dependente químico vai receber um tratamento individualizado de acordo com a necessidade de cada um.
Uma das possibilidades é a realização do tratamento em uma casa terapêutica. A Coordenadora Estadual de políticas sobre drogas do Estado de São Paulo, Eliana Borges Gonçalves Rodrigues da Silva, explica que a metodologia é inovadora e destina-se a dependentes químicos que estão em situação de rua: “A gente entende que essas pessoas, por estarem há muitos anos em situação de rua, elas não se adaptam às formas tradicionais de intervenção. Então, foi desenvolvido uma metodologia onde a gente trata, ao mesmo tempo, a questão da dependência química, as vulnerabilidades associadas à dependência química e também promove a saída delas da situação de rua”.
O serviço está estruturado em quatro fases distintas e é ofertado em um sistema de três unidades denominadas Casas Terapêuticas. O período de intervenção poderá durar até dois anos e ainda existe um acompanhamento por mais seis meses para prevenção de recaídas. “Não vou desistir da vida”, diz paciente da Casa Terapêutica em tratamento após 27 anos como usuário
Esse é o caso de Jasiel Gabriel Filho dos Santos, de 40 anos, que não imaginava viver em uma casa, ou ter uma cama e ou um sofá na sala. Aos 12 anos, ele saiu de casa e foi morar nas ruas de São Paulo. Durante 27 anos, foi usuário de crack e frequentador das cenas abertas de uso no centro. No começo do ano, ele decidiu pedir ajuda e foi encaminhado para o HUB.
Lá, foi encaminhado para uma internação hospitalar, depois passou por uma casa de passagem e agora está em uma das casas terapêuticas. No local, aprendeu a fazer comida, organizar a casa e voltou a estudar. Jasiel quer agora entrar em uma faculdade e se formar em Direito.
“Hoje, vários (usuários) que moram na rua, falam assim: caramba, como é que você conseguiu mano? Como é que você consegue passar e sentir o cheiro de crack e não querer usar? Olha, vou falar para vocês é difícil, sabe? Eu quero mostrar para vocês, e não vou desistir do meu foco e da vida. O meu sonho é me tornar um advogado”.