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Agência Minas Gerais | Governo de Minas reforça importância de diagnóstico e tratamento precoces da leishmaniose

Uma febre que não cedia, mesmo após medicação, fez com que Vitor Caetano Alves, morador de Belo Horizonte, procurasse atendimento médico. Com o sistema imunológico deprimido, o biólogo, de 41 anos, foi internado. 

“Tive dengue e chikungunya ao mesmo tempo e, tratando essas doenças, a leishmaniose ficou escondida. Mas então tive febre alta e intermitente, e os leucócitos e linfócitos caíram tanto que cheguei a ficar no CTI”, conta ele, que trabalha percorrendo áreas de matas e cavernas.

“Fui testado para uma gama de possibilidades, até em função do meu trabalho, e o diagnóstico veio com sete dias de internação, por meio do resultado de exame sorológico realizado pela Fundação Ezequiel Dias (Funed), que identificou antígenos do protozoário que causa leishmaniose visceral”, relata. 

A boa notícia veio após o diagnóstico e o tratamento adequado. “Fiz todo o tratamento e, felizmente, fiquei curado, mas o susto foi muito grande e foi fundamental buscar atendimento no tempo certo”, afirma, aliviado. 

Alerta

Na Semana Nacional de Controle e Combate à Leishmaniose, que ocorre de 10 a 17/8, o Governo de Minas, por meio da Secretaria de Estado de Saúde (SES-MG), reforça a toda a população a importância do diagnóstico e tratamento precoces da doença, disponíveis pelo Sistema Único de Saúde (SUS) em todo o estado.

De acordo com a diretora de Vigilância de Doenças Transmissíveis e Imunização da SES-MG, Marcela Lencine Ferraz, são realizadas ações de maneira permanente, em parceria com os municípios, voltadas para todos os elos do ciclo de transmissão da doença. 

“Atuamos de forma conjunta com as secretarias municipais de saúde para identificar onde há maior incidência do mosquito-palha, transmissor da leishmaniose, e distribuir insumos de controle desse vetor, além do monitoramento da doença em humanos e nos animais, principalmente no cão, envolvido no ciclo da leishmaniose visceral”, relata. 

“Também atuamos de forma integrada para fortalecer o diagnóstico precoce e o tratamento em tempo oportuno da doença em humanos, a fim de evitar a gravidade e o óbito por leishmaniose, que é o nosso principal objetivo”, destaca a diretora.

Ministério da Saúde / Reprodução

A doença

Existem vários tipos de leishmaniose, mas as apresentações clínicas mais comuns são a leishmaniose visceral (LV), que ataca os órgãos internos, principalmente o baço e o fígado, e a leishmaniose tegumentar americana (LTA), que ataca a pele e as mucosas. 

A leishmaniose visceral é uma doença crônica e não contagiosa, com alta morbidade e significativa letalidade quando não tratada. Os principais sintomas são febre irregular de longa duração (mais de sete dias), falta de apetite, emagrecimento, fraqueza, aumento do abdômen, anemia e sangramentos na fase mais avançada da doença. 

“A leishmaniose visceral é grave, mas tem tratamento para os humanos. As crianças, idosos e pessoas imunodeprimidas são as que têm maior risco. Quando não tratada, essa doença tem uma taxa de mortalidade de mais de 90% dos pacientes”, alerta o médico infectologista do Centro de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde (Cievs Minas), Ricardo Luiz Fontes Moreira.

“Assim, é fundamental que o paciente procure o atendimento em uma Unidade Básica de Saúde logo que surgirem os primeiros sintomas, especialmente a febre persistente com causa indefinida. O médico vai solicitar exames para confirmar ou não a doença e, uma vez diagnosticada, quanto mais cedo for iniciado o tratamento, maiores são as chances de evitar agravos e complicações”, reitera ele. 

Manifestações clínicas

Já a leishmaniose tegumentar americana acomete a pele e mucosas e pode apresentar diferentes manifestações clínicas. As lesões cutâneas podem ser únicas, múltiplas, disseminadas ou difusas; e a forma mucosa caracteriza-se pela presença de lesões destrutivas localizadas, em geral, nas vias aéreas superiores. 

“A leishmaniose tegumentar se caracteriza principalmente por lesões que parecem úlceras, que têm a borda mais elevada e mais firme, e não é uma úlcera dolorosa. Geralmente, aparece em partes expostas do corpo, como braços, pernas e costas, e pode aparecer também em região de mucosa, como nariz ou boca”, detalha o infectologista. 

“Apesar do baixo risco de óbito, a LTA causa muitos problemas, tanto com relação à questão clínica, quanto a fatores psicológicos, devido às lesões e deformidades que podem causar”, esclarece o médico.

Tratamento

De forma geral, o tratamento de pessoas acometidas por leishmaniose visceral ocorre em ambiente hospitalar, porque esses pacientes ficam mais debilitados. 

“A medicação é usada em um tempo específico e o paciente pode ter uma recuperação inicial rápida, mas a recuperação completa chega a demorar até seis meses. Por isso, a pessoa deve ser acompanhada ambulatorialmente até a recuperação final”, explica o infectologista. 

Já no tratamento da leishmaniose tegumentar a maior parte dos pacientes recebem o medicamento nas Unidades Básicas de Saúde e permanecem nas próprias casas enquanto se recuperam. 

“Dependendo da medicação, o tratamento da LTA varia de 15 dias a 40 dias. Mas, em alguns casos, a lesão não cicatriza completamente neste período e a cicatrização total pode demorar até seis meses”, ressalta.

Transmissão

Causadas pelo parasita do gênero Leishmania, as leishmanioses são transmitidas aos humanos pela picada da fêmea do flebótomo, um inseto muito pequeno (de dois a três milímetros), de cor clara, quase transparente. Por isso, em algumas regiões, ele é conhecido popularmente como mosquito-palha. 

A transmissão ocorre quando fêmeas infectadas picam cães ou outros animais infectados, e depois picam o homem, transmitindo o protozoário. Por isso, caso o animal apresente sintomas de leishmaniose, o  tutor deve procurar imediatamente o serviço de zoonoses ou a secretaria municipal de saúde e solicitar a realização de exame para diagnóstico da doença.

Prevenção

Não há vacina contra as leishmanioses humanas. As medidas mais utilizadas para a prevenção da doença se baseiam no controle de vetores e dos reservatórios, proteção individual, diagnóstico precoce e tratamento dos doentes, manejo ambiental e educação em saúde.

“A principal forma de prevenção das leishmanioses é evitar a picada do mosquito que transmite a doença. Ele não se reproduz em água parada, mas em matéria orgânica. Assim, toda vez que se tem, por exemplo, um quintal com muito lodo ou muita sujeira em casca de árvore, pode haver reprodução desse mosquito”, salienta o médico infectologista.

As principais orientações são o uso de repelentes, evitar os horários e ambientes onde esses vetores possam ter atividade, a utilização de mosquiteiros de tela fina e, dentro do possível, a colocação de telas de proteção nas janelas. 

Outras medidas importantes são manter sempre limpas as áreas próximas às residências e os abrigos de animais domésticos; realizar podas periódicas nas árvores para que não se criem os ambientes sombreados; além de não acumular lixo orgânico, objetivando evitar a presença de mamíferos próximos às residências, como marsupiais e roedores, que são prováveis fontes de infecção. 

Panorama no estado

As leishmanioses humanas dos tipos visceral e tegumentar ocorrem ao longo de todo o ano no estado de Minas Gerais. Em 2024, foram notificados, até 7/8, 59 casos confirmados de leishmaniose visceral (LV), sendo que nove evoluíram para óbito, e  490 de leishmaniose tegumentar americana (LTA), tendo sido constatado um óbito. Em 2023, foram confirmados 188 casos de LV, com 24 óbitos, e 993 de LTA, cocorrência de um óbito.

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